quarta-feira

Depois dos 30

Então ontem eu bebi. Bebi pra caralho. Bebi champagne, muito. Champagne do bom, do ótimo, numa quantidade cavalar pros meus padrões atuais. Foi meu primeiro porre depois dos 30 (ainda se diz porre ou já inventaram outra gíria?). E hoje tá sendo minha primeira ressaca depois dos 30. Comprovei que depois dos 30 não temos ressaca, nós ficamos doentes.

E rapaz, essa ressaca é muito diferente daquelas que eu tinha com vinte e poucos. Se NAQUELE TEMPO eu podia passar a noite inteira bebendo, passar em casa só pra um banho e depois trabalhar habilmente o dia inteiro, hoje eu não sei como cheguei no trabalho. Não sei mesmo, não lembro. Única coisa do trajeto que eu lembro foi da padaria que entrei pra comprar uma água tônica, quando a caixa olhou pra minha cara e falou “Coca-Cola também é bom pra ressaca”. Na hora não entendi a imediata associação que ela fez da água tônica com a ressaca, até eu entrar no elevador e me olhar no espelho. Inclusive, eu se fosse a caixa da padaria, teria tentado me empurrar um chocolatinho.

Aliás, com 30 anos o dia da ressaca não traz só aquela sensação de ebola no corpo, ele traz também um resfriado por ter ficado sentado de cueca no chão do banheiro abraçando o vaso. Além de dor nas costas e nos joelhos. Eu tô o pó.

Não é só a ressaca que é diferente aos 30, o ato todo de passar mal também é. Com vinte e poucos, o meu passar mal era umas duas idas ao banheiro e aquela promessa babaca de “nunca mais vou beber”, mas tudo controlado. Ontem eu contabilizei umas 5 idas ao banheiro, o juramento em alto e bom som de nunca mais beber e a sensação que a morte tava parada ali na porta do banheiro esperando eu acabar.

Mas quem realmente tava no banheiro comigo era o Thomás, meu gato. Uma das poucas coisas que lembro de ontem era eu gritando SAI DAQUIIIIIIIII, TU NÃO PRECISA VER ISSO. Mas o Thomás ficou comigo todas as vezes que fui no banheiro e depois voltava pro quarto comigo. Hoje acordei com ele sentado na cama me olhando. Não sei se tava cuidando de mim ou envergonhado por mim, mas abracei ele, agradeci a companhia e dei o dobro de ração. E depois dizem que gato não é companheiro.

O único lado bom do porre/ressaca pós 30: minha casa tá impecável. Acho que o último resquício de sanidade que eu tinha ontem me disse NÃO BAGUNÇA NADA, NÃO SUJA NADA, É TU QUE VAI TER QUE LIMPAR DEPOIS, TE CONTROLA.

É isso amiguinhos, vou ali morrer mais um pouco. Deixo um conselho final: se você tiver menos de 30 anos, aproveite bebendo muito e coma seus vegetais. Se tiver mais, aproveite bebendo moderadamente, coma seus vegetais, não sente no chão frio do banheiro só de cueca, não fique ajoelhado enquanto vomita, mantenha a calma, respire fundo, cuide as suas costas, não grite com seu gato e preferencialmente beba quando você possa ficar o dia seguinte inteiro em coma.

Sobre empatia

Pra quem não tá entendendo essa consternação toda a respeito da morte do Eduardo Campos, eu explico: o nome disso é compaixão. E não existe compaixão seletiva. A consternação acontece pela tragédia de hoje, pelo massacre covarde na Faixa de Gaza ou pelo mendigo que morreu de frio, anônimo e sozinho nas escadarias de um banco.

A compaixão deveria ser obrigatória, mas não é. O que vi e li hoje foi uma parcela grande da população sendo idiota e mendigando atenção e popularidade da maneira mais esdrúxula possível: fazendo piada sobre uma perda. Quem morreu hoje não foi um político, não foi o candidato a presidência, foi o pai de 5 filhos. Pai, sabem? Pai, de que a gente sente saudade e, se tivermos sorte, podemos fazer essa saudade sumir com um abraço.

E enquanto 5 crianças perdiam o pai, milhares de pessoas faziam piada disso ou desejavam que outra pessoa tivesse morrido no lugar. Outra pessoa também com família, sentimentos e história, seja ela PT ou PSDB. Uma pessoa com um passado, um acumulado de pequenos traumas, vitórias, sorrisos e medos. Assim como eu ou você ou a Dilma ou o Aécio ou o Eduardo ou o seu pai. Mostrar compaixão pelos mortos da guerra e desdenhar de um político morto é ignóbil, é nefasto e é preconceituoso. Não tem diferença, todos deixaram um coração de luto.

Falta compaixão e também falta empatia nesse mundo desgraçado. Pra quem acha que uma piada não faz diferença, é só pensar “se alguém que eu amo tivesse morrido num acidente de avião e milhares de pessoas ficassem fazendo piada disso, como eu me sentiria?”. É difícil? Infelizmente parece que é. A imensa dificuldade que as pessoas têm em se colocarem no lugar das outras é, na minha opinião, o que faz desse mundo cada dia mais insuportável e dolorido.

Se o que aconteceu hoje tem um lado positivo, foi pra me mostrar quem eu quero e quem eu não quero no meu círculo de relações (ainda bem que a grande maioria também repudiou tudo isso que falei). E serviu também pra desejar, mais do que nunca, que a próxima geração tenha mais empatia e compaixão do que a nossa. Porque, do contrário, não vai sobrar mais nada.

sexta-feira

Balzaquiano

Completei 30 anos em Buenos Aires, o amor da minha vida. Ela, gentil como sempre, me abraçou como nunca. Com um mapa improvisado e com o meu senso de direção que sempre me fazia correr na contramão no Mario Kart, caminhei 17km no dia do meu aniversário e cheguei em todos os lugares que queria. Acho que o Planetário é por aqui, então eu andava e andava e Buenos Aires me levava lá. No dia da greve, mais de 200 pessoas esperavam por um táxi quando um senhor de terno apareceu, perguntou se eu ia pro centro e então abriu a porta de trás de uma Mercedes. “Primeira vez em Buenos Aires?” “não, é a quinta” “então vou colocar uma música especial, gosta de tango?” “demais” e então comecei a rever Buenos Aires escutando um Gardel fudidíssimo. Na Casa Rosada fiz um drama tão lindo que me deixaram ir na sacada. “Rápido e não diga a ninguém”, falou a guia. E abriu a porta, pisei naquele balcão e vi muito mais do que a Plaza de Mayo. Meu primeiro parabéns ao vivo veio do vocalista do Otros Aires, uma das bandas que mais amo. “Que los cumpla feliz” e me abraçou e me deu um cd autografado. E em Punta del Este o André me deu a mão, o pé, um empurrão e a coragem pra subir nos dedos de La Mano que ninguém subia. E lá em cima eu lembrei como é subir no alto, coisa que tinha deixado de fazer há tempos. Por toda a minha vida vou ser grato a ele por essa mão.

E como eu me sinto sendo balzaquiano? Melhor que nunca. Acho que senti toda a crise aos 29, atravessando 2013, o pior ano de todos. O ano que me arrancou pessoas, o ano que me gelou, que me secou e que me emudeceu. Mas já foi, ficou lá atrás junto com meus vinte e poucos anos e a certeza de que tudo passa muito rápido. E as mudanças, quando acontecem, na verdade já aconteceram. Elas estavam apenas ali, aguardando o soar do alarme. Do alarme chamado sobrevivência, que manda endurecer um coração ou achar lindas as borboletas, mesmo quando todos sabem que elas não passam de bichos nojentos com asas coloridas.

“Um dia me barbeei e perdi todo meu menino”, escrevi ainda com 29. Escrevo de novo com 30. Com 30 enxergamos o final do continente, dimensionamos o tamanho das tempestades e levamos na mala o necessário pra sobreviver. É o segundo ato da ópera, onde fazemos a curva, procuramos por qualidade e não quantidade e fincamos nossa bandeira no primeiro grande patamar. “Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços”, disse o Affonso Romano. 

É. É isso e bem mais do que isso. É uma imensidão. São as portas da sacada da Rosada abrindo, é a mão para subir, são reticências. Não por não saber como continuar, mas por ainda ter tanto. É se cansar das coisas cansativas da vida. É não estar nem tons acima nem tons abaixo da nossa essência. É.

É...

terça-feira

~~ família brasileira ~~

Uma coisa que me deixa muito desgraçado da cabeça é nego bradando que AI NÃO PODE TER BEIJO GAY EM NOVELA PORQUE A FAMÍLIA BRASILEIRA NÃO TÁ PREPARADA.

Caras, a família brasileira não tem que estar preparada pra porra nenhuma, afinal não vai um gay a domicílio beijar cada um de vocês na boca não.

A menos que vocês queiram.

Aí me chamem.

Caso contrário, é só o Félix que vai beijar na boca. E se a ~~ família brasileira ~~ não quiser assistir, pode sei lá, ir transar quem sabe. Acho que tá faltando um pouco disso na vida.

quinta-feira

#medo

Eu tenho uns medos muito loucos que achei que só eu tivesse mas descobri que mais gente compartilha dessas nóias então compartilho com o mundo meus medos de:

- Morrer, chegar na porta do paraíso e São Pedro falar: não entrarás porque riu de Inri Cristo, o verdadeiro salvador.

- Encontrar uma sereia assassina e ela me falar QUEM MANDOU NÃO ACREDITAR NO DISCOVERY???

- Os brinquedos que eu guardo sem brincar até hoje se revoltarem contra mim e eu descobrir que Toy Story é real. E eu guardo até hoje todos meus bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, então se eles se revoltarem: fudeu.

- Espíritos de pessoas que morreram de forma imbecil (vide Padre do Balão) voltarem pra puxar meu pé porque eu ri deles.

Bônus track:

- Ser confundido com um ladrão em supermercados e/ou lojas. Então quando eu tô nesses lugares e preciso pegar ou colocar alguma coisa na mochila, mostro pra todo mundo que aquilo é meu e não tô furtando a Renner. E quando fui pros EUA eu fazia isso na rua também, pra todo mundo ver que eu tava tirando do bolso uma carteira de cigarro e não um detonador de bomba nuclear.

- Abrir armários antigos ou ir em sótãos ou porões e encontrar sei lá, a Anne Frank escrevendo um diário.

Na padaria, de manhã cedo


- BOM DIAAAAAAAAAAAA quer tomar o café preto ou com leite e com açúcar ou sem?


- Quero tomar o café em silêncio.

Saiu a lista de vencedores do prêmio Parece que Piorou – minha vida em 2013



- Pelo ano mais feio: artesanato com garrafa pet

- Pelo pior roteiro em 29 anos: Glória Perez

- Pelo pior remake (escolhida pelo remake de 2002, um ano também especialmente ruim): Iris Abravanel

- Pelo ano com mais piada sem graça da história: Ary Toledo

- Trilha sonora: Suzana Vieira cantando Per Amore

- Pelo ano que mais me fudeu: John Holmes

- Pela pior história: aquela do pintinho que não tinha cu e foi peidar e explodiu

- Pelo conjunto da obra: Cecília Gimenez, aquela que ~~restaurou~~ Jesus 

- Menção honrosa: aquela corrente de anjos que não passei adiante em 2006, que deve ter sido a culpada por tanta merda

- Resumo da ópera (ou da minha vida): vídeo do “já tava bom, disse que ia mudar pra melhor, não tava muito bom, tava meio ruim também, tava ruim, agora parece que piorou!”



Curiosidades sobre mim

Aí tava rolando no Facebook uma brincadeira de escrever curiosidades sobre si e aqui tão as minhas:

1 – Não sei andar de bicicleta.

2 – A tatuagem de gato que eu tenho na perna é em homenagem ao Vitório, meu vira-lata ruivo que me adotou por 5 anos e dormia todas as noites com a cabeça no meu braço.

3 – Quando eu tô lendo ou escrevendo pode chegar o Apocalipse que eu não vou notar.

4 – Eu toco violino. Fiz aulas por quase 8 anos e quando aprendi a tocar Hungarian Rhapsody (aquela música rapidíssima do Tom & Jerry, no episódio que o Tom é pianista) parei com as aulas.

5 – Não vou dormir com a pia suja e/ou a sala bagunçada. Portanto nunca me cobrem sobre a minha pia, pois ela tá sempre limpíssima.

6 – Quanto tô nervoso ou triste eu fico com as mãos fechadas, segurando os polegares.

7 – As pessoas só são autorizadas a interagir comigo depois que eu tomar um café (sem açúcar, sempre) e fumar um cigarro. Antes disso eu não funciono e o meu humor é equivalente a 10 TPM´s.

8 – Quando eu era pequeno, achei um passarinho morto na rua e levei pra casa pra abrir o coração e ver Jesus saindo. Fracassei.

9 – Eu tenho um troço chamado Misofonia, que é irritação com alguns barulhos tipo caneta automática, batuque na mesa, chaves e com gente que fala alto/grita. PORRA QUE IRRITAÇÃO.

10 – Tenho uma cicatriz no rosto porque levei uma paulada na cara quando era pequeno. Eu mesmo que dei a paulada.

11 – Não suporto mato nem nada longe da civilização. Mas se for praia eu vou até pra Pururuca do Pau Pequeno.

12 – Não sei desenhar nem fazer linhas retas nem círculos circulares nem pintar dentro dos limites do desenho nem nada.

13 – Já matei uma cobra (no pun intended), não tenho medo de aranha nem barata nem sapo etc, mas com morcego eu viro uma donzela.

14 – Eu já fui tão gordo, mas tão gordo que quando trocava o celular de bolso o DDD mudava.

15 – Nunca aprendi e nem faço questão de disfarçar coisas/pessoas que me incomodam. Elas que vão se foder e pelo menos assim quem eu gosto sabe que gosto de verdade.

16 – Sei cozinhar várias coisas bem pra caralho, mas meu arroz é quase sempre um fiasco.

17 – Não posso com gente tocando violão, tipo música ao vivo “voz e violão”. Rodinha de violão é uma coisa que me faz chorar de desgosto. Rodinha de violão cantando Legião Urbana e/ou Capital Inicial então me faz perder a vontade de viver.

18 – Eu sou muito, mas muito tímido.

segunda-feira

Meus quatro pais

Foi o quarto pai que perdi. Quase 30 anos, quatro pais e quatro despedidas. Primeiro meu pai biológico, que demorou dez anos pra me conhecer. Foi uma perda ali, mesmo que hoje eu conviva com ele. Então nesse tempo meu pai foi meu avô, pra quem eu dava todos presentes de Dia dos Pais, aqueles feitos na escola com lenços e prendedores de roupa. Ele guardou todos, absolutamente todos. Encontrei eles no dia que disse adeus pro meu vô.

Depois veio o Pedro, um amigo da minha mãe. Por um acaso da vida, um dia ele me quis como filho e eu o quis como pai. Amor de graça. Inclusive documentamos essa “adoção” numa carta que tenho guardada até hoje, junto todas essas coisinhas queridas que a gente vai arrecadando pela vida.

Quando o Pedro morreu achei que nunca mais fosse ter pai. Até que minha mãe casou com o Valter, uma das melhores pessoas que já conheci. Ele me quis como filho rapidamente, talvez pelo tamanho do coração e pelo prazer que tinha em viver. Eu fui mais resistente, por medo de perder mais uma vez. Mas depois nós nos divertíamos quando ele me apresentava como filho e eu o apresentava como pai, já que ele era negro e eu loiro. A cara de COMO ASSIM das pessoas sempre nos fazia rir. Aliás, ríamos de muitas coisas juntos. E hoje eu olhei pela última vez pra ele. Dessa vez, sem rir.

E claro que valeu a pena, mesmo que por pouco tempo e mesmo sentindo esse aperto mais uma vez. Porque a dor é a mesma, em todas as vezes. O que muda é que vamos ficando mais calejados pra sair da dor e recolher os caquinhos. E também pra saber que, por incrível que pareça, a morte não é a pior coisa que existe.

Hoje me despedi do Valter. E fortunadamente deu tempo de agradecê-lo por tudo. Por ter sido meu pai, meu amigo e por ter ajudado, de várias formas, a realizar os meus sonhos. Agradeci por ter me dado tanto e por ter sido tanto. E disse que o amava. Aprendi a sempre me despedir de quem eu amo dizendo isso. Até porque eu não sei se vou ter outra oportunidade de dizer eu te amo. Essa é a merda da vida, as despedidas. É uma dor gelada. E mesmo que essa dor seja pequena diante de tudo aquilo que se viveu – e de fato é -, continua sendo uma merda. A maior e a mais dolorida das merdas.

Mas estaria sendo muito mais dolorida se não fosse por tanta gente querida que ajudou, apoiou, ouviu, segurou a mão e doou o sangue. Se existe um lado bom nessa merda toda, é isso. Então muito, muito obrigado mesmo.

E a partir de agora meu pai sou eu mesmo. Afinal eu tenho um pouco desses meus pais em mim. E a eles toda a minha gratidão, a minha admiração e a minha saudade.

sexta-feira

Desgosto de 2013

Agosto de 2013, um ridículo do caralho. Um Carpinejar. O Hitler do ano. O mês mais arrombado do ano mais estranho em 29 anos.


Agosto de 2013, o mês que escancarou as besteiras feitas, os hematomas, os medos e os fracassos. O mês em que, durante as insônias, fez com que travasse conversas sinceras com um teto magoadíssimo.


Agosto de 2013, o mês que teve 60 dias e cada um deles durou 600 horas.


Agosto de 2013, o mês que só me fez ter vontade de chegar em casa e ter uma comida quente e um colo. Agosto foi o mês que esfregou na minha cara que “oi, você é um adulto e está sozinho e a vida é essa mesmo e se você não fizer nada, ninguém vai fazer”.


Agosto de 2013, ok eu já entendi. Entendi que se eu sobrevivi a você, sobrevivo a qualquer coisa. Obrigado, seu puto. Meu pior beijo pra você.

30 anos e 500 gatos

E um dia me barbeei e perdi todo meu menino. Fui dormir com vinte e poucos anos e acordei com quase trinta. Achei um fio branco no meio dos cabelos loiros, as costas resolveram reclamar por causa da mochila pesada da época do colégio e, veja só, ficar em casa assistindo um filme passou a ser mais tentador do que sacudir a carne Friboi na festa. 

E se com 20 anos levávamos a vida como Cio-Cio San de Madame Butterlfy, sempre prestes a enfiar uma espada no coração, aos 30 somos o Comandante Pinkerton, pois já enxergamos o final do continente, já dimensionamos o tamanho da tempestade e já enchemos a mala com o necessário pra sobreviver. Ainda vivemos dentro da ópera, mas já no segundo ato. 

Chegamos em casa com gripe e, sozinhos, limpamos e cozinhamos e arrumamos e tomamos conta de nós mesmos. E talvez pela primeira vez na vida sentimos medo de morrer sozinhos em casa cercados por 500 gatos. E esse medo faz com que a gente se sinta ainda mais vivos porque temos finalmente a percepção de que o tempo passa, e rápido. E mesmo que o tempo volte, ele jamais vai trazer de volta o que levou. 

Aos 30 fazemos a curva, queremos qualidade e não quantidade e fincamos a nossa bandeira no primeiro grande patamar. “Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços”, escreveu o Affonso Romano. 

A tatuagem das asas que fiz com 20 e poucos anos nunca teve tanto sentido. Pois agora é a hora do “maravilhamento” da vida, de ter a sagacidade de um infante e ser mais do que Che em luta. É a hora de eu ser apresentado a mim, esse estranho que eu conheço (?) tão bem.

segunda-feira

(...)



- Mas e então, o que você faz?


- Tento me exorcizar pelo poder da gramática.


- Como é?


Claro que o recepcionista da pensão não entendeu. Não por ele ser recepcionista, nem por ele ter mais de quatrocentos anos, mas porque só fazia sentido pra mim, essa coisa de se exorcizar pelo poder da gramática. Eu escrevia. Escrevia por uma estranha necessidade de ser ouvido. Só que essa necessidade só pode ser suprida quando o ouvinte compreende totalmente o que é dito. Por isso se conversa sozinho, escrevendo. Eu escrevia pra aliviar a cabeça, que desde sempre foi povoada por uma legião de dançarinos de frevo pulando sem parar, cada um falando uma cosia diferente. Um horror.


- Eu escrevo.


- Hum. É escritor então.


- Não senhor, não sou escritor. Eu escrevo, é diferente. Dizer que eu sou escritor sem ter lançado nenhum livro é muito pretensioso.


- Então eu coloco o quê aqui na sua ficha?


- Nada, ué.


- Não posso deixar em branco porque senão o dono da pensão não aceita porque vai achar que você não tem dinheiro pra pagar. Mas você tem dinheiro, não?


- É claro que eu tenho.


Mentira, eu não tinha um puto tostão no bolso.


- Então vou colocar escritor-que-ainda-não-lançou-nenhum-livro.


- Não coloca que sou escritor. A maioria das pessoas acha que escritor é vagabundo. É não fazer nada, acordar a hora que se quer, não trabalhar. E pior, não sofrer. Essa maioria acha que é só sentar a bunda numa poltrona confortável e escrever. Mas o senhor saiba que escrever é muito dolorido. Dói demais esse processo de nos enxergarmos e então desfocar a nossa história, sublimá-la e conseguir colocar no papel. Escrever é um processo de extrema dor, entrega, exaustão, e generosidade.


- Mas e então por que você não faz outra coisa?


- Porque eu não consigo. Escrever também é uma necessidade. Quase sempre eu tenho muita coisa na cabeça, sabe? É uma maneira de não explodir meu cérebro. E tem a necessidade de ser gostado também. Quem escreve espera que os outros leiam e gostem não só do que está escrito, mas principalmente do escritor. Escrevemos por uma estranha necessidade de sermos gostados, ao ponto talvez de achar que ninguém nunca vai poder nos rejeitar ou magoar porque, afinal, lá estão os nossos livros nas prateleiras das melhores livrarias do mundo. Eu estaria perto de Jean-Paul Sartre, seja por nome ou sobrenome. As pessoas olhariam pra prateleira e diriam “aqui temos Os Caminhos da Liberdade e ah, aqui está o novo livro de Julio Steffenon”. E assim eu perpetuaria a minha existência além de porta-retratos cheios de pó. E justificaria o trabalho que eu dou.


- Sei. Vou colocar aqui que você é engenheiro, ok?


- Ok.

quarta-feira

...


"Dos piores sentimentos, a angústia e a saudade estão no topo. São as gêmeas xifópagas que personificam o estado de total desespero.

A saudade em questão, claro, não é a saudade da nossa cama ou de passar uma tarde longe de quem amamos. Falo da saudade de alguém que já morreu. Da saudade de um amor que já morreu. Saudade do que não volta ou do que nunca veio. Saudade que espreme o coração.

E a angústia é a que torce o estômago e nos deixa gelados. Petrificados numa inquietude agonizante. A trilha sonora da angústia é Carmina Burana. A da saudade é Soneto da Separação."

Versículo 1


Li uma vez que ouvir a quinta sinfonia de Beethoven estimulava o cérebro e fazia a pessoa ficar mais inteligente. Então lembrei da música pra começar a escrever. Symphony Nº 5 In C Minor Op. 67, Allegro Con Brio – Ludwing Van Beethoven. Tan tan tan taaaaaaaan. “Descreva quem você é em no máximo 20 linhas”. Tan tan tan taaaaaaan. E junto com Beethoven, entrei em pânico. Digo junto com ele porque só estando em pânico pra compor a quinta sinfonia. Pode ser que Beethoven, paupérrimo, precisasse pagar o aluguel do quarto imundo até as 17 horas daquele dia. Mas a música não dava dinheiro. Afinal, quem caralhos iria comprar composições de um surdo? Beethoven então sentiu vontade de fumar um cigarro, mas não tinha dinheiro pra cigarro. Nem pra um gole de vodca, nem pra porra nenhuma. Decidiu então compor mais uma música surda. Se passaram uns cinco minutos e eu ainda não comecei a me definir em vinte linhas e só tenho mais quinze minutos. Ou seja, tenho um minuto por linha, sendo que já perdi cinco, pra me definir pra uma mulher desconhecida e que usa perfume de rosas. E eu tenho ojeriza a esse cheiro. Não sei bem o motivo, acho que é por causa de uma tia da minha mãe que aparecia na minha casa todos domingos à tarde cheirando a esse fedor. Domingo era dia de odor de rosas.

Oito minutos e eu pensando em Beethoven e odor de rosas. Beethoven não usaria odor de rosas, claro que não. Ele teria o mesmo nojo que eu, ou talvez mais, muito mais. Quando a pessoa não tem um dos sentidos, ela aguça os outros, não é assim? Ou isso só funciona pra quem é cego? Foda-se, mas Beethoven não toleraria odor de rosas em sua casa todos os domingos à tarde. Ele teria dito A SENHORA FEDE A ASPARGO ESTRAGADO E NÃO A ROSAS, ENTENDEU? Será que Beethoven podia falar? Meu nome é Julio Steffenon, tenho vinte e oito anos e...

Meu nome é Julio Steffenon e nem isso ajuda nesse texto. Tenho vinte linhas e se meu nome fosse maior, ocuparia mais espaço e eu teria que escrever menos nessa merda. Não tenho nem um segundo nome. Se bem que não sei que nome fica bem com Julio, fora Julio Cesar. E Julio Cesar Steffenon é mais ou menos como Ludwing Van de Souza. Quem sabe eu poderia ter mais sobrenomes. Poderia ser Dom Pedro e escrever “Meu nome é Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon e com um nome desses eu não preciso dizer mais nada pra senhora, portanto me contrate.” Mas Dom Pedro não estaria atrás de emprego e eu me chamo apenas Julio Steffenon e preciso me definir em vinte linhas pra concorrer com mais oito tapados um emprego que eu já nem comecei e já detesto. 

Meu nome é Julio Steffenon, tenho vinte e oito anos, nasci no interior do Rio Grande do Sul e sou de Áries. Sou uma pessoa tranquila, responsável e dinâmica. Adoro desafios e encaro qualquer situação com calma e serenidade, tentando tirar o máximo proveito de tudo. Meus amigos dizem que sou um pouco teimoso, mas acredito que isso seja a forma que encontro de defender as coisas que penso. Sou bem humorado, organizado e um mentiroso de marca maior. Estou tentando, estoicamente, mentir que sou imperdível pra essa merda de empresa. Mas se eu não consigo me definir nem para mim, quem dirá pra senhora, em vinte minutos, em vinte linhas. Eu falo palavrão, eu minto, eu penso as maiores atrocidades do mundo (embora não execute nenhuma delas), tenho preguiça, deixo tudo bagunçado, e tô sem paciência pra pensar em mais merda pra escrever nessas vinte linhas então TAN TAN TAN TAAAAAAAAAAAN... TAN TAN TAN TAAAAAAAAAAAAN.... TAN TAN TAN TAN tan tan tan tan TAN TAN TAN TAN tan tan tan tan AH VÁ PRA PUTA QUE PARIU PEGA ESSAS VINTE LINHAS E TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.... TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.... TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.... TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.... TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.... TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.... PRONTO, VINTE LINHAS SUA ESCROTA. 

Entreguei a folha pra mulher fedida e ela, sem olhar, me disse “obrigada, se o senhor for selecionado, entraremos em contato”. “Nem precisa perder tempo, leia apenas as duas últimas palavras.” Ela leu na hora, e por isso o pessoal da empresa nunca me entrou em contato. E aí concluí que a Quinta Sinfonia de Beethoven realmente deixa as pessoas mais inteligentes, porque recusei um emprego que eu achava uma merda e que iria aceitar só por causa de dinheiro. Saí de lá orgulhoso de mim, coisa rara nessa vida né? Acho que nos preocupamos muito em orgulhar os outros e acabamos esquecendo de dar orgulho a nós. Então eu estava orgulhoso pra caralho de mim mesmo, era dia vinte e cinco de julho de dois mil e doze e eu tinha só quarenta e três centavos nos banco. TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN.

conta comigo

Um de teus olhos olhando o futuro. E o outro olhando minha boca.
Dois são os teus braços modelados de barro.
Três desejos concedidos.
Quatro patas têm meu gato, minha alegria e um coração.

Cinco dedos têm a mão do vício.
Seis janelas dão ao precipício que há debaixo do cós da tua calça.
Sete vidas gastei por olhar as coisas pelo lado de fora.

Oito vezes quis te mentir
Nove delas te disse a verdade.
Dez não soube o que dizer.

Onze ventos que vêm do norte.
Doze invernos que estou esperando.
Treze dias de boa sorte. Se te encontro em um
Quatorze de setembro haverá uns
Quinze presentes e mais
Dezesseis pares de beijos para ti.

Dezessete dias e quinhentas noites que esperei para te beijar.
Dezoito críticas que faço a mim mesmo todos os dias.
Dezenove abraços sem remetente.

Vinte anos tu tens, a mesma idade que eu tinha quando me apaixonei.
Vinte e uma esperanças que se atiram da ponte.
Vinte e duas, vinte e três que as seguem.
Vinte e quatro pedidos para que entre o mundo e meu corpo só exista tu.
Vinte e cinco invejas dos amantes que povoam as fotos do teu passado.
Vinte e seis orações, crendo somente na cruz dos teus braços.

Vinte e sete anos que espero algo grande e bom.
Vinte e oito lágrimas que deixam uma carícia.
Vinte e nove séculos para aprender que quem mais te quer te fará chorar.
Trinta vezes me arrependi de escrever esse texto.

terça-feira

Pai, avô e um cheiro gelado

Pra mim a morte sempre teve um cheiro gelado. As pessoas que sentem o gosto das cores talvez entendam esse cheiro gelado que eu falo.

Eu tive um “pai de criação”, digamos assim. Amigo da minha mãe, ele me conheceu quando eu tinha 4 anos. E como conheci meu pai biológico só aos 10 anos, a relação de pai e filho eu realmente tive com ele. Se chamava Pedro, tinha quase dois metros de altura e um coração maior que isso.

Ele que me ensinou a me barbear, teve AQUELAS conversas comigo e tudo o que um pai faz, com o plus de não ser meu pai biológico e assim permitir que eu fumasse e bebesse quando ainda não tinha idade pra isso. Eu sabia que se um dia eu caísse, ele ia estar lá pra me levantar. Sabia que se eu vencesse, ele estaria na primeira fila pra me aplaudir. E aquela sensação de proteção e calor se desfez com um telefonema da minha tia. Eu estava trabalhando, e por volta das 16 horas ela ligou dizendo que o Pedro tinha passado mal e que ela ia me buscar. Ali eu já entendi tudo.

Durante todo o tempo de velório, eu lembro de não ter chorado muito e nem cheguei muito perto do caixão. Mas eu sentia uma tristeza absurda, e bem por causa dessa tristeza eu tinha impressão que o Pedro ia chegar ali a qualquer momento pra estar comigo. Obviamente, ele não chegou.

Quando ele foi cremado, carreguei o caixão para a esteira e sem querer chutei o forno, que é de zinco. O barulho parece que me despertou, e ali naquele instante, enquanto o caixão do meu pai de amor ia embora, eu percebi que um pouco da minha vida ia também. Fui pro estacionamento, sentei num banco e fiquei chorando ali por mais de uma hora, sem permitir que ninguém me encostasse ou falasse comigo. Tive vontade de não sair nunca mais dali, porque eu sabia que quando eu parasse de chorar e voltasse pra Caxias, minha vida seria outra. Minha casa seria outra, a casa dele seria outra, minha mãe seria outra.

Não foi a primeira vez que eu me senti sozinho, mas foi a primeira vez que eu me senti abandonado. Ninguém mais preencheria esse vazio que ele deixou. Às vezes quando tenho muita saudade, eu leio as cartas e os e-mails que ele me mandou e sinto falta de quando eu tinha vinte e poucos anos e ele estava comigo, e eu achava que tudo ia ficar sempre bem.

Depois do Pedro, meu avô morreu alguns anos depois. Meu avô também foi um pouco meu pai. Tinha uma figueira no quintal da minha casa que meu avô me deu, onde eu passava as tardes lendo gibis e comendo figos. Ninguém assava churrasco como meu avô, ninguém tinha os olhos tão azuis, ninguém era tão doce e tão vencedor quanto ele. Mas ao contrário do Pedro, quando meu avô morreu eu senti um certo alívio, porque ele estava doente há muito tempo. Mas a sensação de abandono veio novamente. Minhas duas referências de homem tinham ido embora e isso parece que era um aviso: vire-se! E eu me virei como pude.

Penso neles diariamente. Sinto saudade todos os dias. A tristeza, a sensação de abandono e a raiva passam. A saudade não passa nunca. Mas eu sigo em frente, e feliz. Só que às vezes bate uma saudade que eu tenho vontade de me amputar inteiro pra ver se ela passa.

Hoje é um desses dias em que eu tenho saudade da minha infância na figueira. Do meu avô indo me buscar no colégio dirigindo um Dodge azul e usando um terno de linho. Do Pedro me levando pro mar e me dando cigarros escondido da minha mãe.

Saudade de quando eu não sabia que a morte tem esse cheiro gelado.

Vinte e sete

Esse é meu texto de vinte e sete anos, o que conta e reconta minha curta e larga vida. E vou escrever com tinta vermelha como todos os ladrilhos do meu bairro, o vermelho do fracassado como o vinho ranço que bebem todos os bêbados.

Quanto me falta? Quantos amigos se retiraram do caminho. Quanto chorei e por que porra eu dei risada durante esses anos? Que música me fez morrer estando vivo? E que dia eu me barbeei e perdi todo meu menino?

Vinte e sete anos, vinte e sete frases, vinte e sete abraços a mim mesmo. Quando tocará o telefone me chamando aos gritos? O teatro, a literatura e a publicidade. O que forma e o que divide aquilo que eu sou.

Quatro letras tem meu apelido, como as quatro estações. Gabi em solidão, Gabi em idiotice, Gabi em homem forte, Gabi em ser humano, Gabi em felicidade. Quem agora me estenderá uma mão e umas graças à vida? Quem me dará uma saída, um “até logo”, um “te cuida”?

E minha mãe a quem eu devo tudo, e os silêncios do meu pai e meus irmãos que são irmãos muito além de todo o sangue.

A Lua está muito perto e não vi ninguém no meu bairro que tenha acreditado em mim, mas se eu minto não é pecado.

As boates e os mil cafés, meus amigos, meus adorados, muitos beijos para eles se por acaso passamos algum dia sem nos falar. Nosso grupo e as drogas lícitas e ilícitas e as risadas e os amigos e os amigos e os amigos e os irmãos que agora somos.

E meu violino guardado, minha família e amigos que ficam velhos e eu me perco nas suas rugas. Seus vícios. E meu avô que já morreu e eu levei o seu caixão voando por todo o enterro. E ainda lembro dos seus olhinhos azuis, iguais aos meus, me dizendo: “querido, se tu te sentes sozinho, eu te encontro algum amigo”.

E tive um pai que me curava de todo o engano e que me aninhava nos braços quando eu morria pela vida. E não pude me despedir dele. E me rasgo inteiro de saudade cada vez que penso nele.

E também tive outra mãe, uma tia sempre velha, que enchia minha barriga e meu coração de doces e de doçura.

Wilde, Hemingway, Lispector, Young e companhia... Os ônibus para a faculdade. Os desabafos e as ofensas e as vitórias para sempre. As óperas e o rock, o pop e o silêncio. E o silêncio e o silêncio e os cigarros.

Risoto de gorgonzola e banana, as massas e as merdas e o ateísmo. E minha cabeça não assimila o que muda em um segundo o meu conceito de alegria.

Vinte e sete resumos. Vinte e sete maldições. Vinte e sete mil destinos que agora sei que não são meus e minha foto na carteira de identidade que não sou eu, mas um abismo.

Um te quero de algum. Um te desejo de outro. Um te adoro, um tchau e tantas e tantas e tantas despedidas. James Dean e Eva Perón, meus ídolos e meus fantasmas.

O som inconfundível da dor na minha garganta. E minha voz grave e meu gato que não entendia porque chorava junto a ele e o acariciava até dormir. Hoje ele existe somente tatuado na minha perna.

Meu discurso final perante o júri da vida vai ser improvisado, mas cheio de alegria porque eu vivi e não só passei o tempo. E com sorte não vou temer a morte, se essa me pega desprevenido.

Onde está meu passado e meu presente? Minhas músicas idiossincráticas? Quantos povos abandonei na porra da minha cabeça?

E que me perdoem meus insultos e minhas doenças e meus agravos. E que algum dia todos saibam que eu quis, que eu fui corajoso e que eu amei. E que todo o resto não teve a menor importância.

Vinte e sete livros bons, vinte e sete aparições em minha vida, vinte e sete memórias tão privadas, somente minhas. Porque ninguém pode entrar nos buracos da minha alma, nem na alma de ninguém.

Cada qual tem o seu mundo, e com isso acabo. Mas não se vão ainda, porque ainda há mais perfumarias.

Isso é somente um primeiro esboço. Completar talvez me interesse, mas se não, está acabado, pois vou estender a roupa que agora é o que mais me importa.

Então até amanhã. Vinte e oito, vinte e nove, trinta madrugadas. Me despeço com um beijo. E agora sim vou estender a roupa, pois não quero estar pelado porque morro de medo que todo mundo me veja por dentro.

sexta-feira

Perdão, anjos

Estou triste. Profundamente triste e envergonhado pela morte absurdamente estúpida das 12 crianças de Realengo. Envergonhado pelas crianças feridas. Pelas crianças e adultos que viverão pra sempre com isso cravado na memória. Por um País que hoje chora.

Karine, Rafael, Milena, Mariana, Larissa, Bianca, Luíza, Laryssa, Géssica, Samira e as outras crianças ainda não identificadas, eu não conhecia vocês. Infelizmente vim a saber de suas existências através do noticiário sobre as suas mortes. Mas acreditem na minha vergonha e na minha tristeza pela morte de vocês. Por isso peço perdão.

Vocês eram anjos com olhos lindos, como todas as crianças são. E tiveram a vida ceifada repentinamente, com tanto ainda pra viver. Os esforços de tantas pessoas não foram suficientes para lhes salvar. E também sinto-me envergonhado por essas tantas pessoas – professores e funcionários do colégio – terem sido herois, quando eles teriam apenas que cumprir suas funções de funcionários.

Queridos anjos, perdão. Peço perdão em nome de uma sociedade que assiste passivamente a todas as barbáries que acontece à sua volta. De uma sociedade que reclama da corrupção de políticos, mas trapaceia no troco da padaria.

Vocês não deveriam ter morrido. Foram abatidos, como disse o pai de um de vocês, por teu impiedoso algoz, fétido e monstruoso. Talvez, se fossem filhos de pessoas ricas, não teriam suas vidas interrompidas. Mas “infelizmente” vocês eram humildes, filhos de pessoas “comuns”, talvez todos trabalhadores e honestos. Perdão pelas virtudes dos seus pais não serem suficientes para salvá-los.

Perdão Karine pela tua avó que, ao lado do teu caixão, te suplicou que levantasse. Perdão Luiza, pelas tuas amigas chorarem a tua morte empunhando cartazes pedindo paz. Perdão Rafael, pelos teus pais não conseguirem sair de perto do teu corpo. Larissa, perdão. Teu avô, que te criou, não consegue falar ou ficar parado. Perdão Laryssa, pois hoje um amigo teu ia te pedir em namoro e não teve chance.

Perdão aos familiares e amigos. Perdão aos feridos, que espero que se recuperem. E perdão a todos os outros que não citei. Perdão pelos aplausos que vocês estão recebendo em seus enterros, quando vocês teriam que ser aplaudidos por algum trabalho da escola, ou na formatura de vocês e a cada vitória. Perdão pelas roupas preferidas de vocês estarem servindo de mortalha. Perdão, queridos anjos, por vocês não terem mais o direito de festejarem teus aniversários, irem à escola, brincarem e crescerem em paz e em segurança como todos os que têm a sorte de escapar de atrocidades como essa.

Amados anjos, desejo do fundo do coração que, se existir mesmo vida após a morte, que vocês tenham tudo o que lhes foi negado aqui. E que vocês possam perdoar toda essa sociedade ridícula e estúpida que rouba milhões e aumenta os próprios salários, enquanto anjos como vocês padecem pela falta de recursos.

Ao algoz de vocês, o que desejo? Justiça, da forma mais severa e implacável que exista. Ele também está morto, mas ainda desejo que ele sofra e pague pelo que fez. Nada justifica essa barbárie. Nenhum texto, nenhuma justiça e nenhum pedido de desculpa das autoridades vai acalentar o coração dos que ficaram.

Mas saibam, anjos, que seus sorrisos vão permanecer sempre aqui. E sempre na minha memória, pelas fotos que vi de vocês, servindo para que eu nunca faça parte de uma massa mesquinha e hipócrita. E que, de alguma forma, vocês sejam eternamente felizes.

Perdão, anjos. Mil vezes perdão.

terça-feira

+ inteligência e - grito

A princípio eu não ia falar sobre bullying, Bolsonaro, Preta Gil e toda essa merda que tem acontecido nos últimos dias. Mas resolvi escrever pra contar sobre o que eu fiz com o bullying que sofri, sendo que naquela época nem se chamava bullying. Aliás, não se chamava nada.

Era 1990 e alguma coisa quando eu estava no colégio, entre o que era chamado primeiro e segundo grau. Estudei em um colégio estadual e depois em um particular. Da terceira à oitava série, nesse colégio estadual, eu era gordo, usava um óculos com aro verde (que tenho guardado até hoje com o maior carinho), meus dentes eram tortos e eu não conhecia meu pai. Conheci ele pouco tempo depois que entrei nesse colégio, mas pra criar um laço de pai e filho e enxergar nele uma figura paterna que me protegeria, levou anos. Melhor, levou 16 anos. Ou seja, isso só se deu esse ano, em janeiro, quando eu não precisava mais dessa proteção, visto que já sou um homem. Mas enfim, eu tinha todas as características pra sofrer o chamado bullying. E além delas, eu sempre tive uns gostos meio peculiares. Eu gosto de ópera, por exemplo. Amo rock, mas também amo ópera. No meu armário tem uma camiseta dos Strokes e uma da Maria Callas. Enquanto meus colegas liam Coleção Vagalume, eu lia a biografia da Eva Perón e as poesias do Mário Quintana. Eu esperava ansiosamente pela aula de redação e vibrava quando tinha a aula de Educação Física porque, naquele tempo e naquele colégio, era permitido jogar canastra. Por isso eu não jogava futebol. Então eu era o gordo, o feio, o esquisito e o bicha.

E a única lembrança que eu tenho de ter me magoado durante o colégio foi num dia que a professora nos mandou fazer um trabalho para o Dia dos Pais, e eu ainda não conhecia o meu. Eu sempre dava esses trabalhinhos pro meu avô (quando ele faleceu, eu tinha mais de 20 anos e descobri que ele tinha guardado todos, dentro do cofre - saudade). Aí comentei com a professora que ia dar para o meu avô e ela disse que eu não podia, que tinha que ser pro meu pai. Na minha cabecinha de criança alguma coisa deu nó e eu só lembro de sair correndo do colégio chorando muito, e só voltei lá na companhia da minha mãe. E essa foi a única vez que tive que ir pro colégio na companhia da minha mãe, ou de quem quer que fosse (salvo as vezes que minha mãe foi chamada pela diretoria pra estar ciente que eu estava sendo suspenso ou expulso).

Até meus 14 anos tive que ouvir xingamentos porque eu era gordo e porque eu usava óculos. Também achavam estranho eu “não ter pai”. Nunca me xingaram a respeito disso, mas era outra estranheza minha que colaborava pra me deixarem de lado, junto com os musicais do Andrew Lloyd Webber, os livros e a canastra. Depois, conforme fui crescendo, começou com o fato de eu ser gay. Nunca fui afeminado e nem hoje sou, mas tem algumas coisas que se notam, até porque eu nunca fingi nada. Nunca fui lá bater uma bolinha com os guris pra pagar de macho. Nunca fiquei afim de guria nenhuma do colégio só pra dizer que eu era espada. E eu cometia o maior pecado do mundo: eu não jogava futebol.

Só que eu descobri que só eu podia me defender disso. A diretora era uma bocó. Minha mãe era ocupada demais e, naquela época, eu não via nela uma grande defensora, eu precisava de um pai. Mas eu não tinha um pai. Então o meu pai fui eu mesmo. E na realidade, nós somos o nosso próprio pai, porque as coisas dependem só da gente.

Então aprendi a me defender com as armas que eu tinha. Comecei a exercer uma liderança dentro da turma. Comecei a questionar os professores sobre coisas que em geral não eram questionadas. Comecei a me interessar por política e assim incentivar os professores e alunos a aderirem a greves. Comecei a mostrar um conhecimento sobre coisas que a maioria dos alunos daquela faixa etária não tinham (menos em matemática, que sempre fui péssimo). E assim ganhei respeito dos professores e, pouco a pouco, dos colegas. Entrei pro Conselho, sendo o representante dos alunos (acho que é tipo um Grêmio Estudantil - ainda existe isso?). Eu lembro de dois caras que mais me enchiam o saco. Tinham repetido de ano várias vezes, acho que eles tinham uns 17 ou 18 anos. Eu tinha 13. E todo o colégio já me respeitava, menos eles. Um dia, no recreio, eu estava sentado lendo e eles começaram com piadas e xingamentos, até que me mandaram um bilhete. Eu fechei o livro, peguei um isqueiro do bolso – porque naquela época eu já fumava escondido – e taquei fogo no papel. Não disse nada, não olhei pra eles, sequer li o bilhete. Só queimei ele. E não contei pra ninguém. Uma semana depois eles começaram a falar comigo de forma civilizada.

Quando conquistei o respeito geral nesse colégio, eu tive que mudar pra fazer o segundo grau. Então tudo de novo. Eu já não era mais gordo, meus dentes eram retos, eu tinha pai, mas ainda tinha o lance de ser gay. Nesse colégio a Educação Física era obrigatória e tinha que jogar futebol. Eu era, claro, o que sempre sobrava quando iam escolher os times (você que tá lendo isso e se identifica, dá um apertozinho no peito, né?). Eu confesso que nesse colégio a coisa foi um pouco mais difícil do que no outro. Eu já era adolescente e daí tem todo aquele lance de ser aceito e ser desejado e poder desejar em paz. E era um colégio grande e elitizado, e eu nunca fui rico. Então oba, mais uma coisa pra me discriminarem! Mas oras, se quando eu era criança não precisei da minha mãe, não era agora que eu ia precisar. E respeito se impõe em qualquer lugar, quando se tem coisas honestas a serem mostradas. E eu segui a mesma tática do outro colégio, mostrando quem eu era honestamente. Eu ria de mim mesmo no futebol, eu questionava os professores, eu lia no recreio, eu fazia tudo que me desse vontade. E assim passei os 3 anos do segundo grau muito bem. E hoje, os que me discriminavam no tempo da escola querem ser meus amigos. A diferença é que eu não quero ser amigo deles. Eu nunca quis, aliás. Eu só queria que me deixassem em paz. E continuo querendo isso.

O que eu quero dizer com tudo isso é que eu acho que hoje em dia fazem muito carnaval com esse tal de bullying. Ele existe, ele é importante, mas na minha época não tinha essa frescurada toda e tá todo mundo vivo. Alguns se mataram? Sim. Hoje também alguns se matam. Mais, até. A forma como tratam o bullying hoje é incentivando os que sofrem a contarem pros pais, professores e veículos de comunicação. Eu acho que não. Homofóbicos e preconceituosos em geral são como plantas. Eles precisam de oxigênio, sol e água pra viver. Se deixarmos eles no ostracismo, eles morrem.

Preconceito a gente combate com cultura e inteligência, não com grito. Deixem o deputado achar que namorar uma negra é promiscuidade. Deixem ele com saudade da ditadura. Deixem ele quieto. Deixem ele e tantos outros quietos. O agressor, até não ver a vítima louca, não para. Então não enlouqueçam. Combatam preconceito com inteligência. E deixem eles sem ar, porque um dia eles vão secar e morrer. E daí, quem sabe, vão pedir pra você aceitar eles no Facebook.

quinta-feira

Bem gay?

Renato é homem, afinal se chama Renato desde a certidão de nascimento. Mas além de ser homem, Renato é macho. E quando falo macho, quero dizer que Renato é heterossexual. Gosta de mulher. Renato só troca uma mulher na cama por duas mulheres.

Mas tem um monte de gente que não acredita que Renato é tudo isso. Os caras falam que Renato é meio viado. E tem umas mulheres que acham isso também. É que Renato não gosta de futebol. Ele não sabe o nome do jogador do time campeão da quarta divisão do campeonato do Maranhão. “E aí Renato, viu o Grêmio ontem?” “- Não vi cara, não curto futebol.” Pronto, Renato acabou te atestar viadice com doutorado na boiolagem. Renato também não viu a Fórmula 1 no domingo porque preferiu dormir até mais tarde, já que passou a noite toda comendo a namorada. Mas porra, como que o Renato não sabe que o Lewis Hamilton ganhou o GP de Mônaco? Sei lá, ele não sabe. Mas ele sabe como fazer a namorada ter 6 orgasmos. Muito bichona esse Renato.

Outra coisa que Renato não faz é ficar de pau duro quando passa qualquer minissaia. Ok, às vezes acontece, mas não sempre. Renato não tem a obrigação do pau duro. Quando ele beija alguém, ele não TEM QUE ficar de pau duro pra esfregar nas coxas da menina e mostrar que porra, além de muito macho é comedor. Renato fica de pau duro sim, mas quando tem clima, preliminar, química. Aí uma vez, quando Renato tinha sei lá, 16 anos, bebeu tudo que tinha e ficou com a biscate-mor da festa. E dia seguinte a biscate-mor correu pro telefone e contou pra amiga “Meniiiina, fiquei com aquele Renato sabe? Mas ele é biiiicha, ele não ficou de pau duro me beijando.” Baita maricas.

Renato também não bebe cerveja. Não é porque dá barriga, mas porque ele simplesmente não gosta. Ele bebe vodka, “o que já é meio gay”, dizem os colegas da firma. “Mas pelo menos o Renato não bebe champagne hahahahaha”. Pelo menos Renato bebe, porque bicha mesmo é quem não bebe. Frutinha. E pouca gente sabe, mas Renato não come carne vermelha e gosta muito de salada. Quem sabe disso diz que Renato curte mesmo um pepino bem grande.

O tipo de mulher que Renato gosta é ruiva, não precisa ter muito peito e muita bunda, mas tem que saber conversar. Renato tem que admirar a mulher. E claro, tem que ser boa de cama, beijar bem, ser gostosa blábláblá. Mas se ela for só gostosa blábláblá Renato não vê motivo de ficar com ela. VIADÃO esse Renato que não comeria a Larissa Riquelme, mas comeria a Clara Averbuck. Clara quem? Averbuck. Não conheço, é gostosa? É. É Panicat, saiu na Sexy? Não cara, ela é escritora. Ah, que viadice. Aliás, Renato acha a Fernanda Montenegro a melhor atriz do Brasil e não a Deborah Secco. Putão.

Daí que todo mundo acha que o Renato dá o ré no quibe, por todos esses motivos e vários mais. Mas Renato não dá ré no quibe, Renato finca a mandioca. E só em mulher, sempre foi assim. Renato tem uns amigos bichas, que são grandes amigos, e Renato só não entende como eles não gostam de mulher. Daí que quando dizem pra ele que tal coisa é coisa de gay, Renato responde: gay é quem não gosta de buceta.

E Renato gosta tanto de buceta que prefere ficar chupando uma e depois comer com toda a calma do mundo do que dar uma ejaculada precoce porque sei lá, é todo complexado, e ir assistir Atlético Goianiense x Pururuca. Baita macho esse Renato, né? É.

quarta-feira

Me adota!

Decidi. Vou mandar meu currículo com foto pro casal Angelina Jolie e Brad Pitt implorando que me adotem. Serei irmão de Madoxx e de Zahara, que daqui a alguns anos se chamará Botoxx. Eu vou trocar meu nome para Neutroxx.

Brad e Angie vão querer saber tudo sobre mim e sobre o país de onde eu venho. Por isso já comecei a me preparar através da melhor fonte que existe pra isso: o Orkut. Ok, hoje ele é uma espécie de SBT das redes sociais, mas o Orkut é também um novo mundo, paralelo e muito mais divertido. A cada perfil, uma surpresa. A cada foto, um susto. Desde o advento de Evendrim passei a entender mais o dia-a-dia do brasileiro e confirmei o que meus olhos já me mostravam desde a primeira vez que andei de ônibus na vida. Para quem não conhece Evendrim, procure o perfil no Orkut, imprima uma das fotos e use para espantar mosquitos.

Vou poder contar pros meus novos pais que, graças ao Orkut, vi que há muito mais modelos e manequins do que sua amiga booker-bissinha imagina. Monykke, Keylla, Jucenira (se você é filho de Jucenira, tome uma atitude!), Dionathan, Kelryani e Ancélio são somente alguns modelos-manequins com a agenda super tranquila, esperando alguém chamar.

Vi também que existem muito mais religiões do que eu pensava. Não acredito em nada não, mas não duvido da fé do povo. Tem a Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra, Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo (essa fundada por Baby do Brasil e que hoje conta com dezessete adeptos – todos seus filhos, reconhecidos ou não), Deus é Amor, Igreja Internacional da Graça de Deus, Maranata, Templo da Amizade de Padre Marcelo Rossi e Gugu Liberato e Bola de Neve. No começo achei que a Bola de Neve era um drinque vendido em garrafas plásticas, ou a nova sorveteria do ex-marido da Eliana Dedinhos, mas é religião. Meus novos pais vão adorar saber!

Que mais? Ah, vou poder contar que Gretchen, a ex-rainha do rebolado e ex-atriz pornô e atual evangélica, foi candidata à prefeitura de Itamaracá. Com um plano de governo pobre, porém limpinho, ela prometia a divulgação da ilha para os turistas, e recebia total apoio do namorado da época, que já é ex. Angelina e Brad vão querer saber o que Gretchen tem de tão especial. O que ela tem que a nossa arrumadeira não tem? Não sei, papai e mamãe. Só sei que ela já divide o mesmo teto com a nova vítima, que além de namorado, acumula a função de músico da banda dela. Eis uma prova pra quem achava que Gretchen só tinha bunda. Ela também tem banda! Ela é um fenômeno!

No Orkut também rola eleição para a internauta mais bonita. Angelina vai gostar de saber disso e saber se é páreo para as candidatas. É a vida virtual imitando a vida real, já que sempre fazem concurso para a mais bonita – e nem só bonitas participam. Basta visitar o site da última edição da Miss Brasil e prestar atenção na Miss Acre (a imagem da devastação), na Miss Goiás (e ver os efeitos do Césio) e minha preferida, Miss Rondônia, provavelmente a primeira beneficiada pelo Fome Zero, passa, lava e cozinha e provavelmente dorme no emprego. E sabe que as meninas que tiram foto fazendo biquinho pro espelho conseguem muita militância, de todos os âmbitos. Militantes da causa negra, causa gay, causa verde, causa Cláudia e das causas Bahia se juntam para eleger a mais bela orkuteira. Se reunir para criticar e discutir as censuras à imprensa? Nem a pau! Tô assistindo o Faustão!

Sério, quero ter a mesma sorte desse Madoxx. E também do David Banda, filho malauiano que Madonna adotou, e que agora não precisa mais vender amendoim no mercado nem pagar excesso de bagagem por utilizar o estômago como nécessaire. Pode até ser que David seja dançarino de Lourdes Maria, filha biológica de Madonna, em sua já aguardada turnê de 2020, Sex Daughter Oh! Oh! Oh!

Angelina e Brad, não adotem mais crianças africanas, vietnamitas ou cambojanas. Olhem pra mim! Me adotem! Eu moro num país onde a banda Calypso, da diarista-vocalista Joelma vende um milhão de discos pirateados. Onde senadores absolvem senadores, ou ladrões absolvem ladrões, tanto faz. Onde uma desempregada doa metade do Bolsa Família para não ir parar no inferno. Onde todo mundo criticou a Cicarelli por ter dado na praia, mas morreu de inveja. Mas se a casa de vocês já estiver lotada, mandem meu perfil do Orkut pra algum outro famoso afim de uma mídia. Eu tenho ensino superior e garanto sigilo absoluto.

quinta-feira

Cara, Caramba, Cara, Caraô

Tudo começou há um tempo atrás na Ilha do Sol. Não, na verdade tudo começou quando eu li uma Caras MUITO antiga e fiquei sabendo que a Uuuuuuuanessa Camargo (que agora é só Uanessa né?) usou o mesmo modelo de vestido de casamento que Christina Ricci, a eterna Wandinha Adams. Então tá provado que dinheiro não compra exclusividade, nem manda buscar. Mesmo assim, a neta de Francisco foi a New York algumas dezenas de vezes para experimentar aquele que era considerado por ela uma relíquia. Mas foi, no máximo, uma réplica. Notícia bem velha que é bem nova, sabe?

Se Uanessa fosse minha amiga eu a aconselharia a pedir pra uma modista lá de Goiânia transformar os metros de tecido numa linha completa de cama, mesa e banho. E se sobrar pano, capinhas para botijão de gás e liquidificador. O tule vira cortina e mosquiteiro. E pronto, a mais velha de Zilu daria uma customização na casa e entraria naquela onda que todo mundo acha bonito e ninguém faz, como chama mesmo? Ah é, sustentabilidade.

Daí que a mídia brasileira tá virada nisso, né? Perceberam que há anos não existe assunto novo? É o ex-BBB (qualquer um deles, não importa) que vai ao shopping no Rio com a ex do Rico Mansur (também não importa qual delas), a Tati Quebra-Barraco fazendo outra lipo e continuando gorda, a Susana Vieira fazendo suzanices e os políticos, claro, que trocam de nome mas não de ações. E aí a corrupção corre sempre solta na política e no futebol e na polícia e na mesa ao lado.

E esse ano tem eleições né? É. E não tem mais debates como antigamente. Hoje todo mundo é muito educado, muito cheio de regras. Muita perda de tempo. Eu teria uma pergunta pra cada candidato (os três principais, porque os outros nem eras). Pra Dilma: candidata, se a senhora for eleita, o que pretende fazer em relação a esse seu cabelo? Pro Serra: candidato, o senhor acha que pau que nasce torto realmente nunca se endireita? E pra Marina eu não perguntaria nada com medo que ela desmaiasse de fome. Mas compraria um pastel e uma Coca.

Porque convenhamos, adianta perguntar o que eles pretendem fazer em relação à saúde, à educação, à segurança e à cultura? O projeto vai ser sempre lindo e a prática uma vergonha. E por que fazem um alarde na mídia ocupando papel e pixels divulgando que uma ex-modelo com cara de confeiteira foi FLAGRADA com a calcinha na bacurinha?

Será que o conceito de talento mudou? Vão esvaziar os teatros, as galerias de arte, os bons shows para abarrotar povo suado atrás de trios-elétricos e na frente de concursos de misses brancas quase albinas posando de FPS 50 pesando trinta quilos com faixa de alguma ilha caribenha com nome de incorporadora (Turks and Caicos, por exemplo)?

O mundo virou um espetáculo que faria o Nietzche chorar. O ser humano é hipócrita disfarçado. Reacionário domesticado, analfabeto social. O humanoide se acha melhor do que outros quando sua caixa postal acusa mais de vinte e-mails, sendo que metade é propaganda pra AUMENTAR O PÊNIS. Humanoide faz cabaninha para usar palito e acha que voa alto, mas bate a cabeça no teto rebaixado de gesso. Humanoide já esqueceu o Arruda (quem?) e o Haiti (onde?) e se concentra somente em quem mais o Zé Mayer vai comer na novela. Humanoide é cara, caramba, cara, caraô.

segunda-feira

Rinietzsche

- Oi, um Claritin D bor vavor.

- Eu tenho o Histadin D que....

- OLHAQUIÓ, eu dô bi derredendo em ranho por gausa dessa berda dessa rinite e eu não dô gum saco pra essas treta barmacêutica ae que o laboratório paga vocês pra oferecerem outro remédio bros cliente. Borque EU sei como isso funciona, beu irbão é propagandista e eu sou bem inforbado, então não denda dá uma de esperda bra cima de mim bra vocês ganharem depois gomissão e um brindezinho de berda do laboratório, ok?

- Moço, mas eu só ofereci o Histadin porque o Claritin tá em falta.

- Ah... Bode ser então.

sexta-feira

Sabatina

sabatina@r7.com para mim
mostrar detalhes 04:39 (4 horas atrás)


Gabriel

O R7 agradece sua participacao na sabatina da candidata Dilma Rousseff.
Sua pergunta 'Candidata, a senhora acha que pau que nasce torto realmente nunca se endireita?', foi enviada com sucesso.
Obrigado!

Equipe R7

quinta-feira

Questão de bom senso

Cena: eu sentado nas escadas do prédio da agência, fumando um cigarro pra relaxar. Chega um DESCONHECIDO.

- Nossa, que feio fumando.
(Eu? Feio? Cara, tu tem consciência desse teu cabelo?)
- Pois é.
- Fumar é feio.
(Meu, as propagandas de cigarro da minha infância disseram que não, fui iludido!)
- Tem gente que faz coisa bem mais feia. (como teus pais, quando te fizeram)
- É, mas assim você vai morrer.
(Não vou não, meu nome é Edward Cullen e eu vou te morder.)
- Sabe que meu avô morreu com 92 anos?
- Sério?! E ele fumava?
- Não. Ele só não enchia o saco dos outros.

quarta-feira

Pelo direito de comer pão de queijo

Daí que a Rachel – a diva do teatro caxiense – me pediu quando eu ia atualizar o blog e respondi que não sabia porque nada de interessante aconteceu. Mas daí fui na padaria e tipos, aconteceu algo interessante. Bom, não sei se é realmente interessante, mas tu lutar por um pão de queijo recheado, se não for interessante, é digno né. Pelo menos eu acho.

Enfim, eu fui na padaria, entrei na fila pra comprar pão de queijo recheado e na minha frente tinha uma mulher das mais feias. Mas assim, feia mesmo. Ok, ignorei a mulher feia, que JÁ ESTAVA SENDO ATENDIDA e uma outra atendente veio pedir o que eu queria.

- Dois pães de queijo recheados, por favor.
- Pois não.

Só que enquanto a atendente colocava os meus pães de queijo no trocinho pra levar, a mulher feia também pediu pão de queijo recheado. Ela TAMBÉM queria dois. Só que SÓ TINHA DOIS. Então a atendente, com cara de pânico, me olhou, olhou pra mulher feia e deu um sorriso ressabiado. O seguinte diálogo foi feito:

Eu: - Pode me dar os pães de queijo porque eu pedi primeiro.
Mulher feia: - Mas eu estava antes na fila.
Eu: - Mas eu pedi primeiro, a senhora tava pedindo outra coisa.
Mulher feia: - Mas eu cheguei antes e estou na sua frente.
Eu: - Meucu, porque eu pedi os pães de queijo antes de ti e picas se tu resolveu pedir duzentos doces antes dos pães de queijo.
Mulher feia: - Qual é o problema, MEU FILHO?
Eu: - O problema é que tu é feia como a necessidade.


Nisso a mulher feia ficou em choque, eu peguei o trocinho com os pães de queijo e fui pro caixa. Daí enquanto tava pagando meus suados pães de queijo a mulher feia também vai pro caixa e outro diálogo é feito:

Mulher feia: - Tomara que esses pães de queijo te façam mal, porque tu é muito MALIDUCADO.
Eu: - Se fizerem mal tudo bem, eu cago e passa. O problema mesmo é ser feia feito a necessidade.


E então saí da padaria vitorioso com meus pães de queijo. E até agora não me fizeram mal.

segunda-feira

Sleeper

Então depois de um final de semana encenando Paranoia – que foi um sucesso – eu tive o seguinte sonho:

Eu era um ator famoso da Broadway mas tava me apresentando em BENTO GONÇALVES num teatro muito luxuoso e a peça era O Fantasma da Ópera, mas todo em espanhol. Daí que eu era o Fantasma e na cena em que o lustre cai eu corro pra plateia e protejo a Marília Gabriela, que tava sentada na primeira fila junto com A VELHA SURDA DA PRAÇA É NOSSA. Daí levei elas pro camarim e a Dilma Rousseff tava me esperando com um buquê de flores. Quando peguei as flores ela começou a tocar uma VUVUZELA e o camarim se transformou numa espécie de sala de aula, e a Marília Gabriela era a minha colega e foi ler uma redação LÁ NA FRENTE e contou que eu salvei ela da morte. Mas ninguém me deu os parabéns porque eu não conseguia tirar a máscara do Fantasma. Fim.

E é mais ou menos assim que a minha cabeça funciona.

sexta-feira

SMS do amor

O dia dos namorados esta chegando, e com ele varias novidades imperdiveis da nova colcci. Venha ate a loja e encontre o presente certo para o seu amor!
(abraco MARINA - Colcci Iguatemi CXS)


(...)

Cara Marina. Nao tenho namorado e agora fiquei depre. Vou me matar. Abracos GABRIEL.

(...)

Gabriel, nao ter um namorado nao e um bom motivo para se matar. Pensa no lado bom de ser solteiro, vai poder fazer compras so pra voce! Haha abraco Marina (COLCCI IGUATEMI CAXIAS)

(...)

Aham Marina, senta la.